Indo direto ao ponto: A relação entre ciência e religião é complementar, e não conflitante.

Como a Igreja Católica vê essa relação?

A Igreja Católica reconhece a importância da ciência na busca por entender a criação de Deus e valoriza o papel dos cientistas na exploração do mundo natural.

Ao mesmo tempo, a Igreja Católica defende que a fé e a razão são duas maneiras distintas de compreender a realidade, e que ambas são necessárias para se ter uma visão completa do mundo. De acordo com a visão católica, a fé é uma forma de conhecimento que nos permite entender a dimensão espiritual da vida, enquanto a razão é uma ferramenta que nos ajuda a compreender o mundo natural.

A Igreja Católica também tem uma longa história de patrocinar a pesquisa científica e de promover a educação. Muitos dos grandes cientistas do passado eram católicos, como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Gregor Mendel.

No entanto, a Igreja também defende que a ciência não deve ser usada para negar a existência de Deus ou para negar a dimensão espiritual da vida. A Igreja Católica afirma que a ciência e a religião devem trabalhar juntas para fornecer uma visão completa e integrada do mundo e da humanidade.

“Crer em Deus, o Único, e amá-lo com todo o nosso ser tem consequências imensas para toda a nossa vida. Significa acolher a todo o momento a revelação que Ele faz de Si mesmo. A Palavra de Deus, recebida na fé, ilumina de dentro a realidade e a história, e mostra o seu último sentido, que é Cristo. O conhecimento científico pode certamente contribuir para a compreensão das realidades físicas e biológicas, mas não pode alcançar o significado último das realidades, incluindo o ser humano, a não ser que se abra para o mistério. A ciência pode ajudar a compreender muitas coisas, mas tudo o que é, vem de Deus, e só se pode encontrar em Deus a razão última das coisas.”
Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 159

 

Cientistas católicos

A Igreja Católica tem uma longa tradição de apoio à ciência e muitos cientistas notáveis ​​eram católicos, incluindo padres e monges.

Esses são apenas alguns exemplos de cientistas católicos e suas contribuições para a ciência. A lista é muito mais extensa e inclui muitos outros cientistas notáveis.

Exemplos de religiosos cientistas:

Georges Lemaître (1894-1966) – Bélgica: Foi um padre católico e físico teórico belga que propôs a teoria do Big Bang. Ele foi o primeiro a sugerir que o universo estava em expansão, o que mais tarde se tornou a base para a teoria do Big Bang.

Gregor Mendel (1822-1884) – República Tcheca: Foi um monge católico e botânico austríaco que é considerado o pai da genética moderna. Ele descobriu as leis da hereditariedade através de seus experimentos com ervilhas e estabeleceu as bases para a genética moderna.

Roger Bacon (c. 1214-1294) – Inglaterra: Foi um frade franciscano inglês e filósofo natural que fez contribuições significativas para a óptica e a química. Ele é frequentemente considerado um pioneiro do método científico.

Francesco Maria Grimaldi (1618-1663) – Itália: Foi um padre jesuíta italiano que fez importantes contribuições para a óptica e a mecânica, incluindo a descoberta da difração da luz e a descoberta de um novo tipo de curva, que foi posteriormente nomeada em sua homenagem como a “curva de Grimaldi”.

Giovanni Battista Riccioli (1598-1671) – Itália: Foi um padre jesuíta italiano que, com a ajuda de pêndulos, foi a primeira pessoa a medir a taxa de aceleraçao de um corpo em queda livre.

Teilhard de Chardin (1881-1955) – França: Foi um padre jesuíta francês e paleontólogo que propôs a teoria da evolução convergente, que sugere que a evolução tende a produzir formas de vida mais complexas e organizadas ao longo do tempo.

Nicolaus Copernicus (1473-1543) – Polônia: Foi um padre e astrônomo polonês que propôs a teoria heliocêntrica, que afirmava que a Terra e outros planetas giram em torno do Sol.

Albertus Magnus (1193-1280) – Alemanha: Ou São Alberto, o Grande, foi um frade dominicano que chegou a ser bispo de Ratisbona. Considerado um dos Doutores da Igreja, foi filósofo, teólogo e professor, sendo São Tomás de Aquino o seu aluno mais famoso. Na ciência, ficou conhecido por sua contribuição para a química, a mineralogia e a biologia.

Benedetto Castelli (1578-1643) – Itália: Ele foi um físico, matemático e monge beneditino. Ele foi aluno e amigo de Galileu. Foi também professor do filho de Galileu. Colaborou em vários trabalhos de Galileu. Publicou trabalhos importantes sobre a dinâmica dos fluxos.

Mary Kenneth Keller (1913-1985) – Estados Unidos: Foi uma freira da ordem das Irmãs de Caridade da Beata Virgem Maria e a primeira pessoa a obter um doutorado em ciência da computação nos Estados Unidos. Ela trabalhou na implementação do núcleo (“kernel”) da linguagem de programação BASIC. Ela também fundou e dirigiu por vinte anos o Departamento de Ciência da Computação na Universidade Clarke, fundada pela sua ordem religiosa. Foi uma defensora da inclusão de mais mulheres na área de ciência da computação e da tecnologia.

Outros grandes cientistas católicos:

Louis Pasteur (1822-1895) – França: Foi um microbiologista e químico francês que fez contribuições significativas para a medicina e a biologia. Ele desenvolveu técnicas para pasteurização e vacinação, e suas pesquisas sobre a fermentação levaram à descoberta de muitas bactérias patogênicas. Ele é frequentemente considerado o pai da microbiologia. Pasteur acreditava que a ciência e a religião não eram incompatíveis e, como resultado, ele foi um grande defensor da reconciliação entre a ciência e a fé. Por sinal, chegou a dizer que sua maior obra foi ter feito a paz entre a ciência e a religião.

Galileu Galilei (1564-1642) – Itália: Ele foi um físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano, considerado um dos pais da ciência moderna. Ele chegou a considerar seguir a carreira religiosa, mas acabou optando por se dedicar à ciência. Em muitos de seus escritos, Galileu expressou a crença de que a ciência e a religião não eram incompatíveis, e que ambos poderiam coexistir harmoniosamente.

Maria Gaetana Agnesi (1718-1799) – Itália: Foi a primeira mulher a escrever um livro de matemática avançada (cálculo diferencial e integral) e foi pioneira em análise matemática. Depois da morte do seu pai, ela se dedicou mais ao estudo teológico e à caridade.

Igreja e pesquisas científicas

A Igreja Católica desempenhou um papel importante na promoção da ciência ao longo da história, incluindo o patrocínio de pesquisas científicas. Aqui estão alguns exemplos de áreas de pesquisa científica que foram apoiadas ou patrocinadas pela Igreja Católica:

Astronomia: Durante a Idade Média, a Igreja Católica patrocinou muitos estudos sobre astronomia, incluindo a observação do céu e a elaboração de calendários precisos. Alguns exemplos notáveis incluem a construção da Torre do Vento em Andaluzia, na Espanha, e o Observatório do Vaticano.

Medicina: A Igreja Católica desempenhou um papel importante na fundação de hospitais e na promoção de práticas médicas avançadas. A Ordem Hospitaleira de São João de Deus é um exemplo notável de uma organização católica que se dedica à prestação de cuidados de saúde.

Artes e ciências: A Igreja Católica foi uma grande patrona das artes e ciências durante o Renascimento, apoiando artistas e cientistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Galileu Galilei.

Educação: A Igreja Católica tem uma longa história de promoção da educação, patrocinando escolas e universidades em todo o mundo. Algumas das universidades católicas mais conhecidas incluem a Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, e a Universidade Católica de Leuven, na Bélgica.

Filosofia: Muitos filósofos notáveis ​​eram católicos e suas obras influenciaram a história da filosofia ocidental. Alguns exemplos notáveis ​​incluem Santo Agostinho, Tomás de Aquino e John Henry Newman.

Esses são apenas alguns exemplos de áreas de pesquisa científica que foram patrocinadas pela Igreja Católica ao longo da história. A Igreja continua a apoiar a ciência e a educação hoje, patrocinando escolas, universidades e instituições de pesquisa em todo o mundo.

Onde ler sobre a relação entre ciência e fé?

A Igreja Católica tem reconhecido a importância da ciência na busca por entender a criação de Deus e valorizado o papel dos cientistas na exploração do mundo natural em vários documentos ao longo dos anos.

Aqui estão alguns exemplos. A lista é longa, mas é importante para mostrar que não é de hoje que a Igreja observa esses assuntos:

“Fides et Ratio” – Fé e Razão (1998): Esta encíclica do Papa João Paulo II afirma que a fé e a razão são complementares e que a investigação científica pode ajudar a revelar a verdade sobre Deus e a criação. A encíclica também destaca a importância da liberdade acadêmica e da colaboração entre fé e razão.

“Humani Generis” (1950): Esta encíclica do Papa Pio XII reconhece a importância da teoria da evolução para a compreensão da criação, mas também afirma que a alma humana é criada diretamente por Deus.

“Message to the Pontifical Academy of Sciences” (2014): Este discurso do Papa Francisco destaca a importância da ciência na busca pela verdade e na promoção do bem comum.

“Cosmic Liturgy: The Universe According to Maximus the Confessor” (2009): Este documento da Congregação para a Doutrina da Fé destaca a importância da natureza como um reflexo da beleza e da bondade de Deus. O documento também destaca a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para a compreensão da criação.

“Syllabus Errorum” (1854): Onde o Papa Pio IX afirma que a razão humana é capaz de conhecer a existência de Deus e que a ciência e a fé são complementares na busca pelo conhecimento da verdade.

“Providentissimus Deus” (1893): O Papa Leão XIII aborda a relação entre a fé e a ciência. O documento defende que a Bíblia deve ser interpretada à luz da tradição e do magistério da Igreja e que a ciência deve ser usada para ajudar a interpretar a Escritura. O Papa também enfatiza que a Igreja não é contra a ciência, mas sim a favor dela e que a ciência e a fé não devem ser vistas como opostas ou conflitantes, mas sim complementares.

“Ecclesia et Philosophia” (1988): É uma carta apostólica escrita pelo Papa João Paulo II , que aborda a relação entre a fé e a filosofia. O documento defende que a filosofia é essencial para a compreensão da fé e que a fé não deve ser vista como irracional ou anti-intelectual.

“Ciência e Fé” (2009): a Academia Pontifícia de Ciências reuniu cientistas e teólogos com o objetivo promover o diálogo entre a ciência e a fé, especialmente em relação a questões como a origem do universo e da vida, a evolução, a natureza humana e a ética. O Papa Bento XVI saudou os participantes do encontro e reiterou o compromisso da Igreja Católica com o diálogo aberto e honesto entre a ciência e a fé.

“De Unitate Intellectus Contra Averroistas” (1270): São Tomás de Aquino argumentou que a razão humana é capaz de compreender verdades universais e que cada ser humano tem um intelecto individual. Ele também defendeu a ideia de que a razão humana é complementar à fé e que a ciência e a teologia não são incompatíveis. Apesar de não ser um documento do Vaticano, ela é considerada uma das obras mais importantes de São Tomás de Aquino e teve uma grande influência na filosofia medieval e na teologia cristã.

Esses documentos e eventos demonstram a abertura da Igreja Católica à ciência e o reconhecimento da importância dos cientistas na exploração do mundo natural. A Igreja vê a ciência como uma forma complementar de busca da verdade sobre Deus e a criação, ao lado da fé e da razão.

A ciência e a religião devem trabalhar juntas para fornecer uma visão completa e integrada do mundo e da humanidade.